Virgínia Leone Bicudo nasceu em SP em 1910. Negra, neta de uma escrava alforriada e filha de uma imigrante italiana pobre, ela buscou na ciência defesas para lidar com o racismo. A luta a transformou em uma das figuras mais importantes na implantação e desenvolvimento da psicanálise no Brasil.
Bicudo chegou à psicanálise através da sociologia. Em 1935, sempre à procura de respostas para as causas do sofrimento, matriculou-se na recém-criada Fundação Escola de Sociologia Política. Era a única mulher da turma. No segundo ano do curso, conheceu a psicologia social e Sigmund Freud. Procurou, então, quem pudesse ensiná-la mais sobre o assunto, e chegou a Durval Marcondes, que em 1927 fundou a Sociedade Brasileira de Psicanálise.
Recém-formada em Sociologia, Bicudo começou a lecionar na Fundação, disciplinas de higiene mental e psicanálise. Pouco depois, em 1942, ingressou no mestrado, no qual combinou os interesses para estudar os conflitos entre brancos e negros. Com a dissertação “Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo”, primeira sobre o tema defendida no Brasil, ela mostrou que mesmo quando as diferenças sociais diminuem, o preconceito racial permanece. Em 1955, mudou-se para Londres, na Inglaterra, para se especializar no atendimento de crianças. Ao voltar cinco anos depois, assumiu a direção do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP, cargo que ocupou por 14 anos.
No entanto, sua contribuição para a psicanálise brasileira é pouco lembrada: sua tese de mestrado, por exemplo, só foi publicada 65 anos depois, e tanto a Sociedade Brasileira de Psicanálise quanto a Fundação Escola de Sociologia Política só a homenagearam em 2010, no centenário de seu nascimento. A data precisa de sua morte, aliás, nem sequer foi registrada.
Fonte: Revista Galileu.